Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, outubro 23, 2013

Marin chama clubes, Bom Senso FC e Rede Globo para reunião

Segundo a nota divulgada, a reunião servirá para "encontrar alternativas eficazes de delinear sugestões comuns que atendam a todos os interessados"
Equipe Universidade do Futebol

A CBF informou nesta última terça-feira que o presidente José Maria Marin voltará a se encontrar com membros do movimento Bom Senso FC na próxima segunda-feira.

Além do grupo de jogadores que pedem mudanças no calendário do futebol brasileiro, a entidade convidou sindicatos, comissão de clubes, associação dos árbitros e também a Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão dos campeonatos nacionais, para o encontro.

Segundo a nota divulgada, a reunião servirá para "discutir positivamente alterações no calendário do ano de 2014 e outras questões de real importância para todos os segmentos que constituem a essência do futebol", além de "encontrar alternativas eficazes de delinear sugestões comuns que atendam a todos os interessados".

O convite para a reunião surge um dia após a CBF não ter respondido às demandas do grupo de jogadores, que pediu que novo encontro fosse realizado. A primeira reunião entre o Bom Senso FC e a confederação foi realizada no último dia 7 de outubro.

No último fim de semana, durante a rodada do Campeonato Brasileiro, os jogadores realizaram um abraço coletivo simbólico antes de cada partida para mostrar a união do Bom Senso FC.

O grupo, que conta com jogadores como Rogério Ceni (São Paulo), Dida (Grêmio), Juninho Pernambucano (Vasco), Alex (Coritiba) e Paulo André (Corinthians), foi criado no final de setembro para, entre outras coisas, tentar mudar o calendário de futebol nacional.

Tags: cbf , José Maria Marin , reunião , movimento , reivindicações , jogadores , bom senso fc ,calendário , mudanças , rede globo , sindicatos , 

sexta-feira, outubro 18, 2013

Especificidade do treinamento físico do árbitro assistente de futebol

É evidente que o treinamento para um árbitro assistente deve ser diferente daquele realizado por um árbitro que atua como principal


Juliano Fernandes da Silva

Assistente 02

Recentemente, discutimos aqui na Universidade do Futebol sobre treinamento específico para árbitros de futebol, no qual afirmamos que estes precisam ter dois tipos de treinamentos específicos, um para as situações de jogo e outro para os testes físicos aplicados pelas instituições (Fifa, CBF e federações).

Isto ocorre devido à dificuldade de se encontrar um teste que reflita exatamente o que ocorre no jogo. Para árbitros assistentes, atualmente, esta separação entre a especificidade dos testes físicos e a demanda de jogo é ainda maior que nos árbitros.

Sobre a demanda de esforço dos árbitros assistentes durante a partida tem sido demonstrado que estes percorrem cerca de 6 a 7 km por jogo, com 15 a 20% desta distância percorrida em alta intensidade. Além disso, realizam aproximadamente 1053 ações, com uma atividade diferente a cada 5 segundos em média.

Outra informação interessante se refere à distância das ações realizadas em alta intensidade, onde cerca de 90% são inferiores a 25 metros (m), e consequentemente com durações menores que 5 s. Outra característica da movimentação dos árbitros assistentes é que aproximadamente 10% do tempo da partida eles ficam executando deslocamento lateral, que representa cerca de 23% da distância total percorrida.

Sobre os sprints, estes tendem a ter durações inferiores a 4s, com distancias médias de 14 m e raramente superiores a 25 m (KRUSTRUP et al., 2002; KRUSTRUP et al., 2009).

Analisando estas informações, fica evidente que o treinamento para um árbitro assistente deve ser diferente daquele realizado por um árbitro. No entanto, atualmente os testes aplicados para os assistentes são os mesmos que os dos árbitros centrais, diferenciando apenas o intervalo entre as corridas de 150 m, em que os assistentes tem 40 s vs 35 s dos árbitros, e no tempo de execução dos sprints de 40 m que os assistentes devem realizar abaixo de 6,0 s vs 6,2 s dos árbitros.

Desta forma, como mencionamos no início do texto precisa-se treinar para dois objetivos: 1) Performance no jogo; 2) Performance nos testes.

Para treinamentos aeróbios visando situações de jogo pode-se tranquilamente adotar volumes de treino para potência aeróbia máxima entre 1500 e 2500 metros, utilizando distancias inferiores a 30 metros para realizar as mudanças de direção e/ou pausas.

Neste sentido sugere-se estímulos e recuperação (1:1, 2:1, 1:1,5) de curta duração (ex: 8:8s; 8:4s; 10:5s; 6:6s; 4:4s; 12:12s; 12:6s; 4:6s; 6:9s – com mudança de direção a cada 4-6 segundos) objetivando completar períodos equivalentes de 3 a 6 minutos em cada série. Já o número de séries pode variar de 3 a 8, dependendo da duração da série e dos intervalos.

Porém, o principal diferencial no treinamento aeróbio dos árbitros assistentes em relação aos árbitros centrais seria a adoção dos deslocamentos laterais nas sessões de treino. Neste sentido, pode-se adotar volumes entre 600-1000 m de deslocamento lateral visando o treinamento aeróbio com movimentos específicos para a função, adotando-se velocidades médias entre 9 e 11 km/h-1, com deslocamentos em distâncias inferiores a 15 metros.

Esse modelo de treino que neste momento pode parecer novo, em curto espaço de tempo deverá ser rotina para os árbitros assistentes, principalmente se a Fifa adotar definitivamente o teste ARIET como avaliação regular dos assistentes. Este teste que foi validado recentemente por Castagna et al. (2012), e utiliza o mesmo sinal sonoro do teste Yo-Yo intermitente endurance II, foi desenvolvido para avaliar de forma mais específica a aptidão aeróbia do árbitro assistente, contemplando deslocamentos frontais (61,5%) e laterais (38,5%). No estudo de validação, Castagna et al. (2012) sugerem a distância de 1300 metros como referência para árbitros de elite nacional.

Contudo, neste momento a Fifa continua optando pelo modelo de avaliação aeróbia em pista com corridas de 150m, principalmente pela facilidade de aplicação do teste, acredita-se, pois não se justifica a especificidade.

No que se refere ao treinamento anaeróbio, a adoção de sprints curtos de 10, 15, 20, 25 e 30 m parecem ser alternativas interessantes para o treinamento de aceleração e velocidade com corridas em linha reta. Quanto ao intervalo adotado, dependerá do objetivo da sessão, que pode ser menor que 1 minuto para capacidade de sprints repetidos (CSR), ou mais de 1 minuto para sprints intermitentes (GIRARD et al., 2011).

Já para o treinamento de agilidade a utilização de mudanças de direção em distancias inferiores a 10 metros são alternativas que podem ser adotados para este objetivo em árbitros assistentes, contemplando corridas frontais e laterais. Neste sentido, a Fifa vem adotando em caráter experimental a utilização de um teste especifico (10-8-8-10= 36 metros) de agilidade para árbitros assistentes.

Este teste contempla 10 m de deslocamento frontal (ida), seguido de 8 m de deslocamento lateral (volta), mais 8 m de deslocamento lateral (ida) e por fim, mais 10 m de deslocamento frontal (volta), somando 36 metros no total, sendo que os árbitros assistentes devem completar o percurso em um tempo inferior a 9,8 segundos. Esse tipo de movimentação é decisiva para performance física (estar na linha do penúltimo defensor ou da bola) de um árbitro assistente durante a partida.

No que se refere aos treinamentos visando os testes atuais da Fifa, os árbitros assistentes devem trabalhar de forma similar ao que foi descrito no artigo anterior para os árbitros centrais, dando ênfase na potência aeróbia máxima para o teste aeróbio (24x150 m), utilizando-se estratégias como a adoção de um percentual da FCmáx (>90%), ou percentuais referentes a velocidade máxima aeróbia determinada em laboratório ou em testes de campo.

Já para o teste de sprints de 40 m, é necessário aprimoramento da velocidade, complementando com exercícios de coordenação de corrida, potência muscular e aceleração.

A partir das informações apresentadas é possível afirmar que árbitros assistentes, fazem parte de uma população especial que apresenta diversas diferenças em relação a demanda de jogo de árbitros centrais por exemplo.

Sugerindo-se a adoção de 4-5 sessões de treinamento semanais, que contemplem aptidão aeróbia, velocidade, aceleração, agilidade e força. Neste sentido, a prescrição de treinos para assistentes deve ser realizada por profissionais que tem conhecimento sobre a demanda de esforço dos mesmos durante a partida.

Além disso, espera-se que as novas metodologias de avaliação sejam aprovadas em definitivo pela Fifa, para que as demandas dos testes físicos fiquem cada vez mais próximas das que ocorrem nas partidas.

Referências

Castagna C, Bendiksen M, Impellizzeri FM, Krustrup P. Reliability, sensitivity and validity of the assistant referee intermittent endurance test (ARIET) - a modified Yo-Yo IE2 test for elite soccer assistant referees. Journal of Sports Sciences, v.30(8):767-75, 2012.

Krustrup, P., Mohr, M., & Bangsbo, J. Activity profile and physiological demands of top-class soccer assistant refereeing in relation to training status. Journal of Sports Sciences, v. 20(11), 861–871, 2002.

Krustrup P, Helsen W, Randers MB, et al. Activity profile and physical demands of football referees and assistant referees in international games. Journal of Sports Sciences, v..27(11):1167-76, 2009

Girard O, Mendez-Villanueva A, Bishop D. Repeated-sprint ability - part I: factors contributing to fatigue. Sports Med. V. 1;41(8):673-94, 2011.

Tags: árbitro , assistentes , preparação física , treinamento físico , deslocamento , aeróbio ,testes físicos , 

segunda-feira, outubro 14, 2013

Aline Pellegrino, ex-jogadora de futebol profissional

Capitã da geração de prata olímpica fala sobre transição de carreira e problemas encarados pelas mulheres


Bruno Camarão

A gigante não adormeceu, mas o foco da garra apresentada em campo, durante mais de uma década e meia de profissionalismo no futebol feminino, é outro. Aline Pellegrino, a Aline, capitã da geração de mulheres que conquistou a medalha de prata nas Olimpíadas de 2004, foi vice-campeã do mundo e levantou o troféu dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, em 2007, “desistiu” do mundo da bola.

Aos 31 anos, a zagueira abandou o futebol e passou a investir no ramo imobiliário. Corretora, a ainda jovem, que é formada em Educação Física, entende que atingiu o limite de seu desempenho como atleta, e os oito anos a serviço do país em diversos torneios oficiais não tiveram a devida retribuição.

“Talento e recurso humano o Brasil sempre teve e vai ter. Costumo me deparar com meninas de 13, 14 anos, com grande potencial técnico. Mas isso não quer dizer que elas vão vingar como futebolistas profissionais, seguindo um padrão de treinamento”, avalia Aline, que foi coordenadora técnica do Vitória de Santo Antão antes de migrar para outra esfera de trabalho.

“Todo esse ‘bom material’, jovem e talentoso, vai ser colocado em um funil. Tenta-se fazer uma renovação desde 2005 da seleção feminina principal, e os resultados não são bons”, completa a ex-defensora.

Aline admite nunca ter sido a mais talentosa das jogadoras de sua época, mas acredita que outras qualidades, como comprometimento, liderança e espírito de grupo a fizeram permanecer por bastante tempo na elite, com a oportunidade de conviver com treinadores como Zé Duarte, Marcello Frigerio e René Simões.

“É difícil para o brasileiro, que se acha o melhor do mundo neste esporte, realizar um intercâmbio e aprender algo novo. Entramos num ciclo vicioso: você cria atletas, treinadores, preparadores físicos, diretores, etc., que sempre reproduzem algo por reproduzir. E a tendência de formar novos profissionais com uma visão mais moderna é baixa”, compreende Aline.

Nesta entrevista à Universidade do Futebol, a atleta que teve uma experiência no futebol russo lamenta a falta de uma filosofia e uma metodologia claras de treinamento em sua terra natal, o desleixo do sistema acerca do futebol feminino e alimenta um fio de esperança com o Bom Senso F.C:

“Vejo que é uma ideia que eu tentei trazer à tona ao futebol feminino há alguns anos. Desejo boa sorte. No Brasil é complicado colocar a mão na “caixa de abelha”. Apenas espero que se tenha ‘bom senso’ de lembrar das mulheres. Eu, particularmente, não tenho mais como lutar por isso”.

 

Dossiê do Futebol Brasileiro
Confira a íntegra do documento entregue pelo Bom Senso F.C. à Confederação Brasileira de Futebol 
 

 
Universidade do Futebol – Você iniciou sua carreira aos 15 anos. O quanto o futebol de rua, o futsal e o futebol de areia contribuíram para a sua formação profissional?

Aline Pellegrino – Tudo isso fez parte da minha história de criança. Sempre fui muito ativa, gostei de correr, brincar. Minha relação com as brincadeiras de rua foi o diferencial para eu me tornar atleta. Costumo dizer que poderia ter praticado qualquer outro esporte.

Fui formada na parte da questão motora, da coordenação, do conseguir executar bem os movimentos, muito por causa de jogar bola na rua, no asfalto, na grama, em todos os lugares.

Antes de me formar aos 15 anos, o meu repertório já era vasto e certamente a experiência de rua foi decisiva para eu me tornar atleta profissional.



"Minha relação com as brincadeiras de rua foi o diferencial para eu me tornar atleta", diz Aline, capitão da seleção brasileira de futebol feminino 
 

Universidade do Futebol – Que tipos de barreiras existem ainda no futebol feminino para chegarmos a um patamar minimamente ideal?

Aline Pellegrino – Talento e recurso humano o Brasil sempre teve e vai ter. Costumo me deparar com meninas de 13, 14 anos, com grande potencial técnico. Mas isso não quer dizer que elas vão vingar como futebolistas profissionais, seguindo um padrão de treinamento.

Eu mesma nunca fui a mais talentosa de todas, mas tinha outras qualidades que fizeram com que eu permanecesse em grupos de seleção brasileira.

Quando você pega esse talento e bota para fazer um treino, o que era a coisa mais legal do mundo, se torna algo chato. Aconteceu comigo quando fiz a transição ao time do São Paulo em 1997, com o professor Zé Duarte. Todas as meninas da seleção brasileira estavam ali.

Eu tive de passar a seguir coisas com as quais não estava acostumada. Nunca havia sido preparada para aquele ambiente. E é um problema que temos. Todo esse “bom material”, jovem e talentoso, vai ser colocado em um funil.

Tenta-se fazer uma renovação desde 2005 da seleção feminina principal, e os resultados não são bons.

 



Websérie "Esporte como Direito" - Episódio#04 Questão do Gênero no Futebol

 

Universidade do Futebol – Você acredita que a formação de novos jogadores e jogadoras está condicionada à melhora na formação de bons treinadores?

Aline Pellegrino – Eu acredito que sim. Futebol no Brasil ainda é repetição, reproduzir aquilo que alguém fez por algum motivo lá atrás, e ainda não quebramos esse paradigma.

E é difícil para o brasileiro, que se acha o melhor do mundo neste esporte, realizar um intercâmbio e aprender algo novo.

Entramos num ciclo vicioso: você cria atletas, treinadores, preparadores físicos, diretores, etc., que sempre reproduzem algo por reproduzir. Mais do que 50% do que acontece está dentro daquele modo tradicional. E a tendência de formar novos profissionais com uma visão mais moderna é baixa.

Morei fora do país, tive bons treinadores aqui, mas não é o suficiente. Os times sofrem porque não têm “um cara” ou “uma cara” para resolver. Por isso que é preciso pensar coletivamente, ter uma filosofia e uma metodologia claras de treinamento.

No exemplo do futebol masculino, tinha um Neymar na seleção brasileira para ser decisivo na Copa das Confederações. Mas as coisas nem sempre funcionam desta maneira.



Como Ensinar Futebol
Curso online apresenta os pilares da Pedagogia da Rua no futebol: como criar ambientes de aprendizagem.
 

 

Universidade do Futebol – Você disse que não era a mais talentosa da sua geração. Que valores você conseguiu agregar à sua formação para superar essa “limitação técnica”?

Aline Pellegrino – Eu ser a melhor entre os meninos, a melhor da rua, me motivou a ir procurar uma equipe profissional. Mas na transição, vi que não era a melhor entre todas as que estavam ali.

Cheguei nos treinamentos, aos 15 anos, e coloquei na minha cabeça que mesmo sendo a última nas atividades, me doaria ao máximo. Se era para fazer 10 repetições, fazia as 10, e não nove e meia. Se era para dar um pique até o cone, ia até o fim, e não parava no meio do caminho. Esse espírito certamente foi positivo para eu chegar tão longe.



"Na transição, vi que não era a melhor entre todas as que estavam ali", revela Aline, que sempre buscou se doar ao máximo

 

Universidade do Futebol – Destaque as características do melhor treinador com o qual você trabalhou e indique quais são, para você, as valências que um grande profissional de futebol moderno precisa ter para alcançar o sucesso.

Aline Pellegrino – Eu tive vários treinadores. Claro que nunca se vai se ter o modelo ideal. Mesmo o Guardiola deve ter pontos em que ele não seja bom.

No meu caso, sem dúvida alguma, o que mais me agregou características positivas foi o René Simões. O Marcelo Ruggeri, hoje no XV de Piracicaba, foi outro que teve uma participação importante.

O bom gestor de um grupo, hoje, deve ter a capacidade de leitura do perfil dos seus atletas para, aí sim, definir um Modelo de Jogo e aplicar suas ideias. Dentro disso, ele deve fazer com que os jogadores compreendam o que deve ser feito, e não simplesmente reproduzido.

Nós, em campo, não precisamos efetivamente saber o que é uma transição defensiva de maneira conceitual. O bom treinador é aquele que de alguma maneira consegue fazer com o que o atleta entenda aquilo que ele, atleta, já faz bem.




Especial: a importância da formação do treinador de futebol 



Universidade do Futebol – O que é um atleta de futebol inteligente?

Aline Pellegrino – Eu acho que o atleta inteligente é aquele que escuta muito, fala pouco e tem ciência de suas dificuldades. Aquele que procura fazer o que o comandante está instruindo. Aquele que não necessariamente sabe fazer o gol, mas que tem uma leitura aprimorada de todas as situações do jogo, que consegue pensar na frente e antever o cenário.


 



Especial Footecon - Atleta Inteligente

 

Universidade do Futebol – Como você avaliava o seu desempenho depois dos jogos?

Aline Pellegrino – Isso foi algo que quando comecei partiu do meu pai, com 13, 14 anos. Nesta idade, eu sempre achava que era o outro que errava. Tive esses dificuldades no início da carreira, e a partir do momento que passei a ter uma auto-crítica maior, evoluí. Não ficava procurando defeitos no campo, na chuteira, jogando a responsabilidade ao outro.

Em contrapartida, acabava me cobrando além do que eu deveria, o que, acredito, acabou me prejudicando um pouco.

 

Liderança e Coesão de Grupo no Futebol
Curso online aborda os mais modernos conceitos de liderança e coesão grupal para a obtenção de metas no futebol. 
Faça agora mesmo!


Universidade do Futebol – Esse aspecto de liderança, uma marca sua, era algo inato ou que foi construído ao longo do tempo com o auxílio dos profissionais que trabalharam com você?

Aline Pellegrino – Acho que é algo natural. Muitos têm, e muitas vezes não têm espaço e acabam sendo minados. A Carol Arruda, no Vitória, sempre foi uma grande líder, mas quando trabalhei com ela, percebi que estava adormecida essa característica. Muitos lideres não florescem por conta de uma série de fatores, mas acho que é algo inato.

Claro que a forma como o meio te proporciona pode potencializar ou retardar esse processo. Em determinados momentos, preferi me manter calada e mais observadora. Feliz é aquele que tem a leitura para não se expor nem a mais nem a menos do que o necessário.



No elenco das Sereias da Vila, Aline ergueu as taças do bicampeonato da Copa Libertadores e da Copa do Brasil, entre outros títulos.

 

Universidade do Futebol – Conte um pouco mais sobre o seu processo de aposentadoria dos gramados. Foi algo pensado, teve suporte familiar, profissional?

Aline Pellegrino – Eu quero parar de jogar desde os 15 anos, quando comecei. Não há patrocínio, apoio, então foi algo normal. Sempre fui muito auto-crítica. Apesar de falar muito, observava bastante. E percebi que ia me expor muito mais a partir do ano passado se eu seguisse atuando.

Era o momento em que a modalidade em vez de estar evoluindo – e posso estar errada –, mas apesar das conquistas, como modalidade, dentro do Brasil, dentro do Estado, o futebol feminino regrediu. Pra que me expor?

Não valorizamos muito os nossos atletas, e o exemplo dos meninos no futebol está aí. Imagina no feminino. Se eu mesma não valorizar tudo o que eu conquistei, quem vai?

Queria terminar, por tudo que eu fiz, de um jeito positivo. Quando voltei da Rússia, das Olimpíadas, me deparei com meninas de 19 anos “roubando” nos treinos. Não realizando todas as sessões, em vez de três séries de dez, não conseguiam fazer duas de cinco. E eu não tinha a vontade mais de cobrá-las, etc.

Amadureci a ideia de parar de jogar. Atuei na Copa do Brasil neste ano, mas por outros motivos, e há oito meses parei de jogar de um modo bom, natural, sem dramas.

Eu me formei em 2004 em Educação Física, antes de começar a ir para a seleção, mas não pretendo seguir nesta área.

Logo que me aposentei, fui convidada para ser coordenadora técnica do Vitória de Santo Antão, e aquilo com que eu me deparava na reta final de carreira como atleta, novamente vi do lado de fora.

O futebol feminino é um ciclo vicioso, um beco sem saída, você entra por uma porta e sai pela mesma. Abri os olhos, compreendi que tinha feito a minha parte, e decidi seguir outro rumo.

Não quero mais trabalhar com o futebol e virei corretora de móveis. Dou aula de futebol em uma escolinha, mas algo bem light, longe do alto rendimento, para atender o pedido de um amigo que segue na luta em prol da modalidade. Assumi essas aulas matutinas, mas com um envolvimento bem menor.



Você conhece o curso Gestão Técnica no Futebol da Universidade do Futebol, em parceria com a ABEX? Clique aqui!
 

Universidade do Futebol – Recentemente, alguns jogadores do futebol masculino lançaram o Bom Senso F.C., um movimento que reivindica algumas mudanças na estrutura da modalidade. O que você pensa sobre isso?

Aline Pellegrino – Vejo que é uma ideia que eu tentei trazer à tona ao futebol feminino há alguns anos. Desejo boa sorte. Eles têm voz para isso, estão fazendo barulho, sei que no Brasil é complicado colocar a mão na “caixa de abelha”, há um sistema difícil de ingressar, mas torço. Apenas espero que se tenha “bom senso” de lembrar das mulheres. Eu, particularmente, não tenho mais como lutar por isso.

..