Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, março 19, 2009

COM PÉ E CABEÇA – ANO IV – Nº146

“O futebol cearense existe de fato, mas precisa ser reinventado para ser notado e reconhecido.” (Benê Lima)

Opinião
NOSSO MUNDINHO MICRO, NO MUNDO DE CEARÁ E FORTALEZA


Nossos dois times ditos ‘grandes’, vivem em mundos que representam uma caricatura mal-construída da realidade dos grandes clubes brasileiros. E reparem que falei em times e não em clubes. E é bom que fique claro para a minoria que há uma enorme diferença entre time de futebol e clube de futebol.

Pois bem. Como times de futebol, Ceará e Fortaleza representam o aspecto macro do estágio de desenvolvimento do futebol cearense. Outra vez peço que reparem e dêem conta do nosso atraso. Sim, pois o que enxergamos abaixo dos modelos do atraso que ambos encerram, é algo incomparavelmente pior.

Pois, para quem não sabe, existe um ‘asteróide’ que gravita em torno dos mundos alvinegro e tricolor, em que habita o ‘dirigente de neandertal’. Nesse mundinho ainda subsistem alguns espécimes de velhas e rabugentas raposas, que em meio ao cinismo e anacronismo de suas práticas, ainda se consideram como portadores da saberia universal do meio futebolístico. Por isso, esses falsos ‘portadores do archote’ (da iluminação mística) insistem em produzir seus ‘transgênicos’, verdadeiros ‘frankesteins’, autênticos quasímodos.

Nesse ‘asteróide’ quasimodesco, coabitam as personalidades ‘raposóides’, algumas das quais nem sequer chegaram ao estágio do anacrônico, já que ainda permanecem no estágio primitivo que beira a barbárie. Suas democracias não são comestíveis, mas comezinhamente abomináveis. Expurgam valores e elegem bionicamente contra-valores. Sacrificam o que é certo e ignoram o que é justo. Desvalorizam o conhecimento e convivem com a ignomínia.

Nossas três divisões do futebol profissional possuem muitos desses ‘alienígenas’, e não há leviandade em se dizer que o progresso do nosso futebol e do nosso meio radiofônico-televisivo, passa, inexoravelmente, também pelos portais dos cemitérios.

Um lapidar exemplo do conteúdo deste discurso pode ser encontrado bem perto de nós, fortalezenses, onde sei do aporte de projetos que são simbolicamente engavetados, porque a mente putrefeita do cartola não resiste à idéia de divisão dos méritos. Em sendo assim, seu arremedo de clube permanecerá no limbo do nosso futebol, como resultante de um centralismo altamente personalístico e excludente.

Quem duvida da necessidade de modernização dos nossos clubes, quem não acredita que o futebol é também uma ciência, não só envelheceu, mas, petrificou-se.

Como tenho dito sempre, o estágio multidisciplinar do esporte foi vencido; o estágio interdisciplinar está em curso; e o estágio superior da transdisciplinaridade está aí para ser incorporado. Não sem que antes façamos nossa própria revolução interior.

(...)


A APCEDEC DE HOJE PROJETADA PARA O AMANHÃ

Ajudar a construir uma entidade minimamente respeitável é tarefa de todo cronista que se quer respeitado

Alguns companheiros da Crônica Esportiva já me procuraram, tecendo comentários críticos acerca do que não é feito pelo cronista esportivo. Invocaram alguns casos emblemáticos, sendo o mais recente deles o que envolveu o companheiro Paulo Rodrigues, plantonista da Verdinha.

Indiscutivelmente, o tema representa um mote importante para discussão, principalmente em tempos de eleição em nossa entidade de classe.

Sem dúvida, é elogiável a preocupação que está por trás da atitude crítica desses companheiros. A eles lhes fiz transparecer minha concordância, meu apoio e até mesmo certa dose de indignação. Ou não é triste e constrangedor saber de companheiros em situação de verdadeiro abandono?

Em minha fala também expus a necessidade de nós, cronistas esportivos filiados à APCDEC, deixarmos de lado quaisquer atitudes em que a hipocrisia esteja presente, e pensarmos seriamente em dar apoio à nossa entidade, no sentido de dotá-la de receita mínima que possibilite o desenvolvimento de uma política de assistência a seus membros. E uma das formas que vislumbro, passa pelo aumento do percentual de sua participação na renda líquida dos jogos.

Para que se tenha uma idéia, a menor participação, seja sobre a renda bruta seja sobre a líquida, cabe à APCDEC, que detém tão-somente 1% da RL (renda líquida), o que representa algo ao redor de 0,6% da RB (renda bruta). Vamos a alguns exemplos pautados na realidade deste Campeonato Cearense:

- Na partida Fortaleza x Icasa, a quota da APCDEC foi de R$140,33;

- No jogo Itapipoca x Maranguape, coube-lhe a quantia irrisória de R$36,86;

- No Boa Viagem x Ceará, o valor destinado foi de R$23,43.

Vê-se, portanto, que se a entidade destinar um simples lanche para 50 cronistas que trabalhem em um jogo de médio porte, do qual participem Ceará ou Fortaleza, ela gastará com apenas essa despesa, cerca de 200,00 a R$250,00. Isso já representaria um déficit ao redor de R$100,00.

Diante de tão simples exposição, creio estar justificada a situação de extrema dificuldade em que vive a entidade, razão pela qual se torna inviável para ela atender à expectativa até mesmo dos menos exigentes.

Proponho, pois, que seja retomada a situação pretérita, em que a entidade detinha 3% da RL (renda líquida) dos jogos, o que corresponde a aproximadamente 1,9% da RB (renda bruta). Ainda assim ele seria deficitária, mas caberia a seus dirigentes buscarem recursos suplementares para o equilíbrio de suas contas.

Antes, pois, das cobranças e de se nutrir expectativas mirabolantes acerca de possíveis realizações da APCDEC, tratemos de primeiro ajudá-la a montar o bolo, para depois pensarmos na sua distribuição.

O próprio companheiro Alano Maia, que no passado foi um crítico da entidade, hoje reconhece o quanto é difícil conduzi-la. No entanto, Alano não foge da luta, e certamente espera contar com o apoio de todo os cronistas conscientes.


EFEMÉRIDES

Sob sol ou chuva, só dá Guarany


Se com Fernando Polozzi o Guarany de Sobral já deu um salto de qualidade em relação a sua estréia neste campeonato, sob a batuta de Oliveira Lopes na matéria técnico-tática, e de Roberto Farias na preparação física, o time dos polêmicos regentes Luiz e Luizinho Torquato passou a tocar praticamente sem desafinação nem semitons.

Um time comum, mas não amorfo. Uma equipe que não se exibe, mas joga o jogo. Um comando técnico que não inventa, mas tem identidade. Um time que conseguiu estabelecer um vínculo emocional com seu torcedor, que em bom número comparece a seus jogos no Junco.

O Fortaleza enfrentou esse Guarany de 1ª divisão cearense. E como o time tricolor cambaleia na presente competição, não conseguiu batê-lo, no que pese o esforço empreendido.

Aliás, com todo o respeito aos dois, esse Fortaleza que aí está e o ausente Rodrigues Mendes têm dado origem a muitas frustrações para o torcedor leonino.

O técnico Mirandinha precisa dar um maior equilíbrio à equipe. Com zagueiro tentando fazer a função de armador, com goleiros que não inspiram confiança e com uma planificação tática que empobrece a criação, torna-se ainda mais desafiadora a tarefa corretiva e autocorretiva de Miranda.

A bem da verdade é perceptível certo padrão tático da equipe do Pici no 1º tempo das partidas. Todavia, o próprio treinador desfaz o que fez, numa atitude que beira o desespero de quem quer fazer omelete sem ovos.


Ceará pára na ladeira em ponto-morto

Ganhar o primeiro turno parece ter feito mal ao Alvinegro. Em Porangabuçu – e não só por lá – parece ter virado utopia se pensar em conquista de campeonato do tipo arrastão. Pior ainda se pretender uma conquista invicta.

Parece-me que, para os técnicos atuais, reproduzir o comportamento das equipes do sul e principalmente do sudeste, é questão de honra – ou sei lá quê. Mal e mal conseguimos formar um time A, e ainda há quem pense na composição de um time B. Nem bem conseguimos cumprir o calendário doméstico, e há quem, em nossos clubes (?), pense em dar cabo da conjunção dos calendários estadual e nacional, pela via da priorização desta ou daquela competição.

Para quem como eu, com a mais plena convicção advoga a manutenção dos certames estaduais, começo a me render ao relativo desinteresse dos clubes, por suas competições de origem.

O Ceará certamente voltará a ter a cara do turno inaugural, no momento do jogo contra seu maior rival, o Fortaleza. Isso, contudo, não é estratégia válida. É engodo. É desrespeito ao torcedor alvinegro. Em face do discurso genérico da ‘glorificação’, tão comum às religiões ditas novas e de aluguel, na prática salta aos olhos a carência de uma ‘glorificação’ da motivação.


BREVES E SEMIBREVES ®

Arbitragem
Luzimar Siqueira desta vez não brilhou tanto. As imagens da televisão, sempre tão cruéis e desiguais em relação ao olhar de árbitros e assistentes, mostraram-nos alguns equívocos interpretativos de Luzimar. Nota sete, como incentivo a este bom árbitro. Já Marcos Antonio Sampaio, não creio que ainda possa evoluir. Sua principal limitação é não convencer os atletas de que é um bom árbitro. E árbitro tem de estar ligado durante todo o jogo.

Feminino assumido
O Fortaleza parece ter assumido sua equipe de futebol feminino. O site oficial do clube abre um link para a modalidade, embora ainda não haja um tratamento como algo que veio para ficar. Já o Ceará ainda age como se fora barriga-de-aluguel. No site do clube não se vê referência ao time feminino. Lamenta-se.

Sub-18 em ação
Vem aí o Campeonato Cearense de Futebol Amador, categoria sub-18. Nos corredores da FCF, é dada como certa a presença de Ceará e Fortaleza na próxima Copa São Paulo de Juniores, em janeiro de 2010. Fale-se ainda em mais duas vagas cearenses, distribuídas entre o grupo dos clubes não-profissionais, a partir dos resultados desta competição.

FCF ainda não
De fato parece haver uma espécie de sinergia entre a atitude de torcedores retrógrados e a da FCF, no tocante ao preconceito contra a renovação. A grande maioria dos torcedores critica o que eles chamam de ‘imprensa velha’, mas não dão a mínima chance para a nova não segmentada. A FCF age corretamente ao enviar convite para seus ‘algozes’, mas esquece de prestigiar os verdadeiros agentes da renovação.

Relação incestuosa?
Tem sido dificílimo para nós, que inauguramos programa esportivo que também contempla entrevistas, contarmos com a boa-vontade das personalidades do nosso futebol. É flagrante a má-vontade da maioria delas, e as exceções têm apenas confirmado a regra. Por enquanto, vou preferir não dar nomes aos que seguem a regra.

Não é fácil
Fazer rádio com seriedade não é tarefa para amigos, e sim para profissionais. Mas aqui, ter opinião é defeito e não virtude. E nem precisa ser uma opinião consistente. Cinicamente, dá-se mais valor ao estilo que ao conteúdo. Vinte ou quem sabe dez anos de prostituição, quer-se que valha mais que cinco anos de luta honesta e sincera por uma Crônica Esportiva melhor. À atitude conivente, deseja-se rotulá-la de comportamento ético. Prefiro a ética da verdade que a da mentira.

Isto sim!
Deu prazer ouvir a entrevista de Vagner Mancini a repórteres que faziam a cobertura do Santos. Perguntas inteligentes e carregadas de opinião, às quais Mancini em momento algum as considerou agressivas, nem disse que os repórteres estavam enganados. Jornalismo esportivo da melhor qualidade foi o que ouvi. Pergunta: Será que um dia ouviremos por aqui algo parecido?

Será mera coincidência?
Quase na mesma proporção que nossa imprensa radiofônica enveredou pela segmentação, nossos clubes são menos clubes e nossos times menos times. A ausência de uma metodologia crítica-analítica tem dado lugar a uma critiquice de fundo eminentemente emocional. E ainda há torcedor que fala em jornalismo investigativo. Ah! Alice...

Vale o registro
Domingo Esportivo é um programa diferente de tudo que tem sido feito no rádio esportivo local. Não é nenhuma doutrina espírita que a tudo propõe resposta, mas ao menos faz os mais pertinentes questionamentos, e ainda busca quem os possa responder. Na grande maioria das vezes não encontra as pessoas certas para tal, mas isso não invalida as tentativas.

Mas vale a pena
O pior momento do talentoso Domingo Esportivo é quando o ouvinte participa. Para Jurani Parente, Gualber Calado e sua turma, deve ser frustrante solicitar idéias, sugestões, soluções e do ouvinte ter como contrapartida um besteirol de provocar calosidade nos ouvidos.


Benê Lima
benecomentarista@gmail.com
http://www.lerodebola.blogspot.com
(85) 99898-5106


.

domingo, março 15, 2009

O ministro e as carteirinhas
Da FOLHA DE SÃO PAULO
Por Juca Kfouri

Depois de sete anos de governo, enfim, cogita-se fazer algo contra a violência nos estádios. Mas, será?

EXISTE uma lei do esporte, dita Lei Pelé, que ora ele avaliza, ora Pelé desdenha, e um Estatuto do Torcedor.

Textos mais que suficientes para dar conta de toda e qualquer necessidade que se imponha nos estádios e ginásios nacionais, até porque são modernos como as legislações da Espanha, da Inglaterra etc.

Leis que dependem de eventuais detalhamentos nos regulamentos das competições, mas que, basicamente, apontam nas direções corretas e contemporâneas.

E que sempre que são objeto de reformas buscam atender aos que tiveram seus privilégios, em tese, prejudicados. E só em tese porque, na prática, apesar de alguns progressos óbvios, como o Brasileirão em pontos corridos, o fim do passe, a possibilidade de o torcedor acionar os promotores de jogos, pouco mudaram a vida da cartolagem, tanto que não tem nenhum cartola preso, como seria de se esperar.

Porque, desde que foram aprovadas, o que se viu foi uma maioria de ministros se acumpliciando com a superestrutura do esporte brasileiro, seja no COB, seja na CBF. Sim, parece inesgotável a capacidade de sedução de nossos cartolas, capazes de levar ao altar as mais diferentes autoridades do país, sejam elas da elite, seja o operário que chegou ao poder, este sabendo bem quem são os cartolas.

E tome reformas que buscam tirar a responsabilidade deles, que dão Timemanias umas atrás das outras, leis de incentivos e que, agora, para combater uma minoria facilmente identificável, buscam criminalizar a maioria pacífica. A carteirinha do torcedor é um bom exemplo.

Proposta pelo ministro do Esporte, que, quando presidiu a UNE, fez da carteirinha de estudante uma festa, a do torcedor quer impedir, já no ano que vem, que a sua mãe, raro leitor, possa entrar num estádio brasileiro com capacidade de receber mais de 10 mil torcedores.

Isso mesmo. Se a senhora sua mãe quiser ir ao Morumbi, ao Pacaembu, ao Prudentão, só poderá ir se estiver devidamente cadastrada, nos mínimos detalhes, algo que não passa de tola burocracia e, há quem diga na OAB, é até inconstitucional.

Ainda mais que as medidas para identificar os violentos podem ser facilmente impostas com a expedição de ingressos inteligentes e com a eficaz implantação dos lugares numerados, como está na lei.

Mas estamos em começo de fim de governo e o ministro do Esporte, que passou mais tempo como bajulador de cartolas e como papagaio de pirata, a exemplo de seu antecessor do mesmo PC do B, tem sonhos eleitorais, talvez como senador, ao menos como deputado. É hora, pois, de jogar para a plateia, mas jamais para a torcida, a verdadeira, composta por gente comum, como você.

Como num passe de mágica, resolver o problema da violência em torno do futebol que assola o país, de norte a sul e de leste a oeste, entrou na ordem do dia. Coisa séria, para valer, mesmo que tardiamente, quase não há, porque coisa séria, para valer, é artigo com o qual não se trabalha.
Daqui a pouco, alguém dirá que minimizar o flagelo do holliganismo, como na Inglaterra nos anos 90, é fácil, mas complicadíssimo num país de dimensões continentais como o Brasil.

.

terça-feira, março 10, 2009

VISÃO CAOLHA

DO BLOG 'LERO DE BOLA"
POR CLARIMUNDO D'OITIVA


“Futebol não é esporte, e sim manifestação cultural.” Será?

Dizem os que falam em nome do Partido dos Trabalhadores (PT), que o futebol não deve ser visto como esporte, já que é uma prática comum e que se vê em todos os lugares.

Eis, pois, uma meia-verdade. Mas o problema maior é saber que essa que já não é uma verdade por inteiro, na metade que se lhe é atribuído um caráter verdadeiro, o PT dela se aproveita para livrar-se de ter que fazer mais esse investimento.

Aliás, talvez o grupelho dos ‘evangelitistas’ comungue da visão protopetista. Pois, na Câmara Municipal de Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, atribui-se ao atual presidente daquela casa legislativa, a mesma linha cartesiana e o mesmo caráter discricionário. Ou seria melhor discriminatório?

Pela mundo afora, o futebol é encarado como ferramenta de inclusão social, como instrumento de combate ao preconceito, como oportunidade para aplacar as desigualdades sócio-culturais e econômicas, enfim, como meio para construir melhores níveis de cidadania.

Que os que fazem o PT conheçam projetos desafiadores como o Changemakers, da Ashoka e Nike, do qual participa a Liga Cearense de Futebol Feminino – a LCFF.

domingo, março 01, 2009

COM PÉ E CABEÇA – ANO IV – Nº145


“O futebol cearense existe de fato, mas precisa ser reinventado para ser notado e reconhecido.” (Benê Lima)


Opinião

O ARCAÍSMO DA CARTOLAGEM


A presunção do saber tem paralisado nossos cartolas, que se repetem em erros que impõem o atraso a nossos clubes.


Já tem algum tempo que o ambiente do futebol se serve da disciplinaridade, com sua característica de uma abordagem calcada no conhecimento especializado. Em meios de estrutura carente, a especialização dá lugar ao empirismo, termo tido como sinônimo de conhecimento prático (fragmentado).


O momento seguinte dessa escalada evolutiva do ambiente futebolístico, colocou-nos diante da multidisciplinaridade, e aí já encontramos uma situação de justaposição de duas ou mais disciplinas. Essa visão cooperativa tem sido a base da qual se tem servido a maioria dos clubes brasileiros, na exata medida da capacidade de investimento de cada um deles.


O terceiro estágio de desenvolvimento desse ambiente nos conduz a uma realidade de uma minoria de clubes, que não ultrapassa uma centena entre mil, os quais já incorporaram a realidade da abordagem e da prática da interdisciplinaridade, com seu grau de complexidade e interação entre as diferentes disciplinas. Aqui já temos uma elaborada construção do conhecimento, a partir de uma visão epistemológica.


O mais avançado estágio de produção do conhecimento atende pelo termo transdisciplinaridade, tendo como principal característica a busca de um conhecimento que reconhece a interdependência de todos os aspectos da realidade. Portanto, essa unidade do conhecimento é o objetivo principal da abordagem transdisciplinar, e isso pode ser traduzido pela lida não só com os aspectos estritamente objetivos, como também com aqueles considerados subjetivos, tais como “crenças, religiosidade, espiritualidade, cultura, costumes, tradições, valores, sentimentos, emoções, intuição” (Medina, João Paulo), entre outros.


A verdade é que precisamos descobrir e aprender a trabalhar ao menos com o terceiro estágio – o da interdisciplinaridade -, pois só assim teremos descoberto a identidade ‘transgênica’ da qual precisamos dotar o nosso ambiente do futebol.


Um futebol que não produz seu próprio conhecimento, que não disponibiliza um saber apropriado, que não forma dirigentes profissionais, que não pode contar com o capital intelectual dos profissionais de imprensa (rádios, jornais, televisões e multimeios) tem poucas chances de crescimento real. Por isso é preciso que ingressemos em um novo tipo de fazer, que seja fruto de um novo tipo de saber, para que possamos formar um novo estilo de ser.


A caduquice de um fazer futebolístico anacrônico, juramentada pela histrionice de certos apedeutas do futebol, têm sido o carro-chefe do nosso atraso. Não queremos com isso nos arvorar da condição de repositório das soluções para os problemas do nosso futebol. Nem mesmo de sermos ao menos um empirista em disponibilidade. Na verdade não devemos fazer melhor nem é este o nosso desafio. Nosso papel é o mesmo de um crítico de arte, ou de um crítico literário, de quem não é exigido fazer melhor que o artista ou escritor, bastando que seja competente para de suas obras fazer-lhe a crítica, seja qual for o teor de sua análise.


Insisto em que, um futebol que confunde crítica com perseguição, e que o elogio é tido como bajulação, não merece subir de divisão.




EFEMÉRIDES


Mediocridade que contamina


Fortaleza e Boa Viagem fizeram um jogo abaixo da média, tão ruim quanto Quixadá e Maranguape. Sabemos que as razões para o que vimos são de natureza diversa. No Fortaleza viceja a não-oportunização dos frugais recursos; no Boa Viagem, a insuficiência é a moda, e o ser pequeno é a regra.


O Quixadá tem como a maior descoberta dos últimos tempos, ter aprendido que sem apoio ‘prefeitural’ não é possível se fazer futebol em ambiente competitivo.

O Maranguape tem seus méritos, embora não tenha conseguido a fórmula da motivação para jogar o jogo contra os apequenados.


No Pici, em campo enlameado, um futebol de terceira divisão cearense, com todo o respeito que a terceirona me merece.


Se o Fortaleza não foi bem – e na verdade não o foi – pior ainda o Boa Viagem. Menos pela derrota, muito mais pelo que não produziu.


O preço do ingresso, creio, deve estar desabituando o torcedor tricolor dos estádios. Isso sem falar na baixa qualidade do time e do elenco. Agora vem a falta de perspectiva em um futuro imediato melhor. Ou seja, estabelece-se um círculo vicioso com fator de retro alimentação. Nada mais contraproducente. Perigo a vista.


Mirandinha passou no primeiro teste de coerência. Talvez com nota oito. Fez o básico, sem invencionice nem histrionice. Experimentou uma lógica superior, escalando teoricamente o melhor onze. 1-4-4-2 de saída, com dois volantes em linha diagonal e não-paralela (Álvaro e Coutinho), com dois meias de ofício (Marllon e Bismarck) e dois atacantes de características diferentes (Bambam e Nicácio), embora posicionados equivocadamente.


Que o técnico tricolor não cometa o erro de apadrinhar jogadores pouco produtivos, como foram os casos, entre outros, de Bismarck em tempo integral e Jô como aposta. Giovani já teve as oportunidades que outros não tiveram, tendo provado que está abaixo de Rodrigo Brasília.


O time tricolor pode ser feito sem craques, só não pode abrir mão completamente do talento. Na mesmice que tomou conta da equipe, fica difícil vislumbrarmos um ‘acessório’ de salvação.


Com a palavra o departamento de futebol profissional do Fortaleza.


*-----*-----*



Um campeão sem contestação


Hão de dizer que o Alvinegro ainda não ganhou nada. Eis uma meia verdade. Ganhou de forma incontestável o primeiro turno do Cearense e garantiu presença na final desta competição, também assegurando o título de vice-campeão; carimbou ‘passaporte’ para a Copa do Brasil de 2010.


Outro fator a ser comemorado é a maneira como se deu a conquista. E neste ponto o Ceará foi um pouco além da medida, ganhando com sobras o primeiro turno. Isso pode facilitar as coisas para o Alvinegro em nível de planejamento da sua participação nas duas competições que disputa: Campeonato Cearense e Copa do Brasil.


Está por vir uma maratona de jogos para a qual o Ceará precisa racionalizar sua participação, estabelecendo uma prioridade, mesmo que momentânea, para uma delas. E por certo isso deverá ser feito, privilegiando-se a competição nacional. Pelo menos é o que imagino.



Uma final sob controle


Em nenhum momento se viu a vantagem do Ceará sob ameaça. O time já possui algumas características marcantes: estuda o jogo do adversário e é pressionado nos primeiros quinze minutos até conseguir encaixar a marcação; a partir daí busca sair para o jogo, preferencialmente no erro do adversário.


Entre as qualidades do time do Ferroviário, falta-lhe a da verticalidade. É uma equipe que realiza boas tramas, trabalha a bola com relativo talento, mas esbarra na falta de profundidade de seu jogo ofensivo.


O Ceará, por sua vez, é uma equipe que tem sabido tirar proveito não só da maturidade, mas também de outras características de seus jogadores. O que disto resulta é uma visão contrastante, emque se vê de um lado um time adulto a encarar de outro um time de adolescentes.


É interessante vermos o Ceará ser pressionado, mas ao mesmo tempo sentirmos o risco maior rondando o gol do adversário.


Outro fator que atesta a maior consistência do time alvinegro é vermos que nem os equívocos cometidos por seu treinador têm interferido nos bons resultados obtidos pela equipe. Nem mesmo a ausente presença de Sérgio Alves tem atrapalhado.


Numa tarde-noite em que o Ceará não teve destaque e menos ainda destaques, o feijão-com-arroz bem dosado foi suficiente para, sem sustos, conjugar os verbos vencer e conquistar.


*-----*-----*




BREVES E SEMIBREVES ®


Péssimo exemplo

O custeio dos departamentos de futebol de Santos e Palmeiras juntos chega a R$26.906.854,00 anuais, mas ainda assim eles gastam R$1.275.300,00 a menos que o Corinthians. Somente dois atacantes do Corinthians juntos, Souza e Ronaldo, representam uma despesa com salários da ordem de R$727.058,00. O pior é saber que o técnico Mano Menezes é parceiro de empresários.


Vanderlei ou Wanderley?

Seja como for, o IWL de Luxa vai de mal a pior. Uma escola elitizada, lidando com um esporte popular, comete o erro estratégico da escolha de um público-alvo que não tem real interesse pelo aprendizado das coisas do meio futebolístico. Quem possui real interesse acaba sendo condenado a viver de um empirismo acrítico e falto em metodologia e critério.


Natal 2014

A capital do Rio Grande do Norte parte na frente na disputa pela condição de sub-sede da Copa de 2014, ao apresentar um projeto que vai além da construção de um estádio. Uma parceria público-privada possibilitará ainda a construção de edifícios de habitação e escritórios, shopping center e outros equipamentos urbanos. O projeto de arquitetura será executado pela HOK SVE da Inglaterra, responsável, dentre outros, pelos estádios de Wembley e Emirates (Arsenal) na Inglaterra e Olímpico de Sidney na Austrália.


Cabide de emprego

O ministro Orlando Silva pretende criar uma Secretaria Nacional do Futebol, mas o foco de tal criação nos parece equivocado, ao eleger como vilões cambistas e árbitros corruptos. A violência das organizadas e/ou uniformizadas – estas sim! - é que representa o grande câncer do futebol. Já diz Quartarollo que, “quando o Executivo se mete no esporte, normalmente alguém fica mais rico e o esporte fica mais pobre e com mais problema”.


Aos que fazem o Alvinegro

Essa estória de posar para a torcida não condiz com a postura de um grande dirigente. Lembrando também que dirigente não é somente o diretor. A postura do dirigente responsável não é a que reproduz o comportamento do torcedor. A influência deve se dar no sentido inverso: o bom comportamento do dirigente ‘mimetizando’ a conduta do torcedor.


O ovo ou a galinha?

Os nossos dirigentes são abaixo da média por que nossa crônica também o é, ou nossa crônica é como é por que nossos dirigentes são como são? Tenho buscado insistentemente o responsável pela nossa CEAF para uma entrevista, e as 10h15 de um belo dia, ele já me deu como resposta que estava dormindo. Será que tem a ver com o prefixo?


Em confidência

A coisa no Tricolor do Pici é um pouco pior do que parece. Rio que tem piranha, risco é atravessá-lo. O Pici só não é o novo eldorado dos empresários por falta dos metais preciosos. Ainda assim o interesse pelos ‘balangandãs’ tem causado certo furor, pela simples expectativa da presença do vil metal.


Constatação

Cada vez mais me convenço de que, dentre os modelos inacabados – e é assim que deve ser – de como reportar no futebol, Danilo Queiroz encontra-se em posição de destaque, principalmente pelo equilíbrio, pela sobriedade, pela sinceridade, e pela rejeição ao estrelismo presunçoso. Palavra de quem foi treinado para observar.


Sob medida

Diariamente, das 10 às 11 horas da manhã, na Rádio Metropolitana AM930, você tem uma opção para atualizar-se com as novas abordagens que permeiam, especialmente, o ambiente do futebol. Através do programa METRO NOS ESPORTES – o esporte feito sob medida – você confere algumas informações do futebol profissional, do esporte amador, opiniões e entrevistas, além da amostragem da participação do ouvinte. Ligue-se!


Tuf, tuf

Faixa correu pelo Pici, com os seguintes dizeres: “Se você quer ver o Kanal campeão, Lúcio Bomfim é a solução”. Um velho enredo de uma peça que só faz sucesso pela faceta imbecil que em muitos habita. Aliás, a TUF precisa fazer um ‘eu confesso’, nem que seja intramuros.


Bomfim, o temível

Um estrondoso choque de altíssima tensão sofreu a torcida tricolor que ouviu a entrevista do presidente do Fortaleza, na última sexta à noite. A natureza do choque foi de realidade. Era necessário. Mas deve ter sido profundamente desalentador. Desolador? Nem tanto. A reconstrução é possível. Mas começa pela construção de um ambiente favorável ao reconhecimento da ‘pobreza’.


Fantástico!

Surpreendentes os números da parceria entre o Ceará Sporting e seu torcedor. Fazer futebol com moderado nível de preocupação é dar asas ao ‘ócio criativo’ de De Masi, famoso sociólogo italiano. O Alvinegro, a meu juízo, representa hoje um bom exemplo da transformação que o capital intelectual é capaz de operar.


The best

Arnaldo Lira, embora não tenha ganho o primeiro turno, a mim me pareceu o melhor técnico do Cearense até aqui. Para tanto, precisamos levar em conta as dificuldades enfrentadas pelo treinador coral.


Arbitragem em alta

Assegura-me o confiável Gualber Calado, que Cleuton Lima conduziu-me muito bem na direção de Maranguape e Guarany. Luzimar Siqueira teve ótimo desempenho na condução de Fortaleza e Boa Viagem. E finalmente o gaúcho Simon fez uma boa arbitragem por aqui. Continuo apostando na arbitragem cearense.



Benê Lima

benecomentarista@gmail.com

(85) 8898-5106