Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, agosto 28, 2008

MOBILIZANDO SEM IMOBILIZAR

Volks deve transportar Grêmio e Inter

GUSTAVO FRANCESCHINI
Da Máquina do Esporte, em São Paulo

Grêmio e Inter devem, em breve, ser transportados por ônibus customizados da Volkswagen, que está próxima de fechar contrato com as duas equipes. Com tudo praticamente acertado, o time do Beira-Rio já fala em um lançamento oficial na sede da montadora em São Paulo.

A idéia é que a parceria, que é realizada em forma de comodato, municie o departamento de futebol profissional a princípio, transportando, posteriormente, as categorias de base do clube. No momento, a direção do Inter trabalha no desenho da carroceria do veículo, que pode trazer alguma surpresa para o torcedor.

O mesmo não pode dizer o Grêmio, que ainda trabalha para fechar com a Volkswagen apesar de ter sido procurado primeiro. Apesar de o contrato ainda não ter sido assinado, o marketing do clube já tem um esboço do layout do ônibus, que conterá um desenho da taça do Mundial de Clubes, conquistado em 1983.

A iniciativa não é inédita no futebol brasileiro. Um projeto do tipo já está em andamento em São Paulo, com o Corinthians como parceiro. Assim como deve acontecer entre os rivais gaúchos, o clube do Parque São Jorge é transportado por um modelo especial da Volkswagen dentro da cidade de São Paulo e em distâncias curtas.

Todo o projeto do ônibus será especial, e uma carroceria exclusiva já está sendo construída na cidade de Caxias do Sul, na fábrica da MarcoPolo, umas das maiores produtoras brasileiras do ramo. O investimento da Volkswagen em cada projeto deve passar de R$ 1 mi.

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sexta-feira, agosto 15, 2008

COLUNA COM PÉ E CABEÇA - ANO IV - Nº128


OPINIÃO
Muito para ser desfeito e refeito

Todo dirigente de futebol deveria saber que ao assumir um cargo em um clube estará sujeito muito mais a críticas que a elogios. Como tal deve ele se encontrar preparado para conviver com as críticas e até mesmo para delas saber tirar proveito. Parece-me estar sendo essa a atitude de Lúcio Bonfim, presidente da executiva do Tricolor do Pici.

Embora Bonfim e seu escudeiro Edílson José - diretor de futebol e vice a um só tempo - tenham feito um esforço para se mostrarem solícitos e lhanos, sabemos que não é fácil manter o equilíbrio diante de tamanha crise e sua conseqüente pressão. Mas, louve-se a ambos pelo esforço empreendido.

Eu mesmo não tenho poupado críticas aos dois, assim como jamais contemporizei com as mazelas do ex-presidente Marcello Desidério. E é importante que eu diga isso, porque a crise de Bonfim é a crise de Desidério e afins. Pois foi pelas mãos do ex-presidente que o Fortaleza foi lançado no que podemos escolher chamar de aventura ou (quem sabe) desventura.

Nem precisamos inventariar o que já foi dito por atletas e ex-atletas ao tempo de Marcello, menos ainda há necessidade de mencionar as desavenças entre esse mesmo Marcello e seu refratário diretor de futebol, Edílson José. Também me pouparei o trabalho de elencar o que da administração Desidério já propalou Lúcio Bonfim. De sorte que, organização, planejamento e projeto, no Fortaleza real, é conto da carochinha. E de mim não se queixem, pois não sou eu quem o diz: os fatos e os próprios tricolores falam por si.

Mas o Fortaleza tem salvação. Mais que isso: o Fortaleza tem solução. Não nos ‘times’ (tempos) de Edílson e de Lúcio, não na balada de Marcello, não na ação mediocrizante de treinadores ‘genéricos’. Edílson precisa reaprender a fazer futebol; Lúcio tem de esquecer a administração pública; e Heriberto precisa aceitar o desafio de reciclar seus conhecimentos e suas atitudes. Sei que é pedir demais, mas a mudança não precisa estar balizada pela absolutização de seus valores. A relativização dos mesmos já produzirá efeitos positivos.

No Fortaleza de hoje, já não basta eficiência; também se faz necessário a eficácia. Portanto, é preciso que as atitudes sejam tomadas com acerto, e que esses acertos produzam resultados satisfatórios. Do contrário, o rebaixamento será inevitável.

A propósito de rebaixamento, após o desastre que foi a gestão de Desidério, Bonfim bem que poderia extinguir a ‘blindagem’ pelas bandas do Pici. Afinal, rebaixar certas figuras a babões sem remuneração seria uma espécie de sacrifício que se exigiria desta corja de puxa-sacos, que tanto mal têm feito ao Fortaleza Esporte Clube.

Aliás, diz um velho adágio: “Amigos e inimigos, amiúde, estão em posições trocadas: uns nos querem bem e fazem-nos o mal; outros nos querem mal e fazem-nos o bem.”

E para quem pensa e fala da causticidade de minha crítica, tenho a dizer que sempre falo menos do que consigo saber, porque só menciono o que acho que pode e deve ser dito.

E também é mediocridade não termos opinião.

Sobre o atual elenco tricolor, compreendemos a dificuldade de avaliação dos que lidam com emoções e interesses. Como não nos envolvemos fundamentalmente com nenhuma destas situações, temos facilidade em promover uma apreciação isenta da performance dos atletas. Ademais, a fundamentação teórica e o empirismo advindo da observação arguta e criteriosa nos qualifica para emitirmos opinião, e o credenciamento formal advém da nossa habilitação profissional.

Portanto, ao colocarmos de lado o passado, como também quaisquer projeções para o futuro, e nos atendo sobretudo ao presente é que identificamos com certa facilidade os pontos contraproducentes da equipe. E neste particular, aceitamos a tese da complexidade dos problemas, já que entre os jogadores de baixa produção existem alguns deles que detêm um bom potencial produtivo. Logo, há algo de putrefeito no reino do Pici.


”O futebol cearense existe, e precisa ser reinventado.” (Benê Lima)
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sábado, agosto 02, 2008

SOBRE TEORIA DOS VALORES

Amor pela camisa, uma prática em desuso

Como a identificação dos jogadores de futebol em relação aos seus clubes e às seleções dos seus países?

Marcelo Iglesias

Desde a popularização do futebol até os dias de hoje, a realidade daqueles que convivem diariamente com o esporte e para os próprios torcedores mudou bastante. Com a criação de leis que facilitaram a transferência de jogadores, com o estabelecimento de elevadas quantias de contrato e de direitos de imagem, o que antes era tratado com um certo grau de amadorismo, atualmente, é um dos negócios que mais movimenta valores no mundo.
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Tanto isso é uma realidade, que a idéia de um jogador atuar única e exclusivamente por amor à camisa do clube ou da seleção é algo que pode ser encarado como ultrapassado. “É muito romântica essa idéia de alguém que foi criado nessa nova geração do futebol ter que jogar por amor a um clube ou a uma seleção. Os atletas têm contratos a cumprir, e eles irão jogar no clube que lhes oferecer as melhores possibilidades de enriquecimento. Essa é a lógica capitalista que também invadiu o futebol”, afirmou Kátia Rubio, psicóloga e presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (Abrapesp).
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No entanto, contrário a essa tendência de busca pelo dinheiro, falou o ex-jogador argentino Diego Maradona, quando questionado sobre a ida do também argentino Lionel Messi para disputar as Olimpíadas de Pequim, e o conflito com o Barcelona que não quer liberá-lo. “A camisa da Argentina não deve ser traída. Tem que vesti-la e dar a vida por ela. Ele (Messi) precisa saber separar os milhões que recebe para jogar pelo Barcelona da glória que é vestir a camisa da Argentina”, afirmou Maradona.
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“Não existe essa questão de lealdade a um clube ou a um país para os atletas de agora. A lealdade será com aquele que pagar mais”, comentou Kátia. “Um exemplo disso é a quantidade de estrangeiros que se naturalizam em outros países para poderem jogar pelas suas seleções. As fronteiras e o nacionalismo acabaram. Essa é a tragédia do mundo globalizado”, completou a psicóloga.
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Outro aspecto que tem que ser levado em consideração é o fato de que, com o sucesso obtido por campeonatos e por clubes europeus, os organizadores dessas disputas e os dirigentes desses times sentem-se na liberdade de enfrentar instituições como a Fifa, por exemplo. Por conta disso, e para amenizar o clima entre os jogadores, os clubes e as federações e associações responsáveis pelo futebol nos países, a maior instituição da modalidade no mundo determinou recentemente que os clubes deveriam ser indenizados por cada jogo que um dos seus atletas participasse, visto que eles correm riscos de lesão, por exemplo, e diretamente não recebem nada para atuarem por seus respectivos países.
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“É notável que a facilidade que existe para a transferência de um jogador de um clube para outro torna esse sentimento de amor pelo time algo muito difícil de ser firmado. Mesmo porque, como a carreira de um jogador de futebol é muito curta, eles têm que buscar, de qualquer maneira, maximizarem as suas receitas”, afirmou Oliver Seitz, pesquisador pela Universidade de Liverpool, profissional de marketing no Coritiba e colunista da Cidade do Futebol.
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Não é preciso uma análise detalhada do futebol brasileiro, por exemplo, para percebermos que são quase nulos os casos de jogadores que são como símbolos de um clube. Um dos poucos que poderiam ser citados é o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo. Nem mesmo nos chamados grandes clubes de massa como o Flamengo e o Corinthians existe um atleta que se encaixe nessas características de ícone da agremiação.
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“O que mudou não foi somente a questão econômica, mas também os sonhos dos jovens que estão começando”, opinou Sérgio Jorge Burihan, professor de Educação Física da Unimódulo. “Agora eles querem sair do país, fazer fortuna fora do Brasil. Isso veio de carona com a massificação e a globalização do esporte”, completou o professor.
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Indo no sentido oposto àquele defendido pelos que têm a visão romântica de que um jogador deve atuar por amor a camisa, seja ela de um clube ou de uma seleção, estão os muitos atletas brasileiros que fizeram parte da história da modalidade, mas que caíram no esquecimento. Exemplos não faltaram quando, neste ano, foram comemorados os 50 anos da conquista da primeira Copa do Mundo pelo Brasil. A penúria de alguns dos membros dessa seleção fez com que fosse encaminhado um projeto de lei para criar-se uma aposentadoria àqueles jogadores que estavam passando por necessidades, e que participaram de times que venceram copas do mundo.
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“Os brasileiros têm a memória muito curta. Do mesmo modo que o país cria bons jogadores em série, os torcedores esquecem de grandes nomes do esporte com a mesma velocidade”, lamentou Burihan. “Atualmente, a única chance de alguém atuar por um clube ou seleção por simples amor a camisa, é se estiver no final da carreira, quando as preocupações financeiras são menores”, ponderou.
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Na verdade, o que existe é uma diferença de visões. Enquanto os atletas têm que pensar no futebol como a sua carreira, em que não há espaço e nem tempo para o lado emocional, os torcedores vêem o esporte como o ponto de vazão das suas emoções, e por se deixarem levar por essa paixão, exigem que os atletas que vestem a camisa do clube ou da seleção para a qual torcem ajam da mesma maneira.
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“O jogar-se por amor é algo romântico, e o futebol também é romântico. No entanto, os jogadores tendem a ser racionais nos seus trabalhos. Por isso ocorrem esses conflitos e questionamentos quanto à postura dos atletas”, disse Seitz. “Mas há de se convir que eles não podem abrir mão de quantias gigantescas de dinheiro por motivos emocionais”, concluiu.
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A VOLTA DO 'MAGÃO' PELA ESCRITA



Defender as nossas cores




Sócrates

Basquete

Mais uma vez o nosso basquete deixará de ir a uma Olimpíada. A razão está basicamente na falta de interesse dos nossos melhores jogadores em participar do evento. Sinceramente não entendo como isso é possível. Está certo que eles disputam a maior liga do planeta, ganham milhões de dólares anualmente e, portanto, estão com a vida feita. Mas será que não existe nem um resquício de nacionalismo no sentimento de algum deles?

Afinal, não foi um ou outro que declinou de sua participação no Pré-Olímpico, e sim todos que vão participar. Enquanto atletas de outros países brigam para poder defender suas bandeiras, os nossos inventam mil e uma desculpas para escapar da empreitada.

Quando estávamos fora do Brasil – toda aquela geração que disputou a Copa do Mundo de 82 –, ficávamos ansiosos no momento das convocações para a seleção brasileira, pois em determinado período nasceu em algum meio de comunicação a filosofia de que só os jogadores que atuassem no País deveriam vestir a camisa amarela.

Foi frustrante quando isso realmente aconteceu. Não havia ali nenhuma outra razão para querermos estar presentes, a não ser o prazer de vestir nossas cores e defender o nosso país. Aquilo representava o auge de nossas carreiras e não queríamos de forma nenhuma estar distantes daquelas oportunidades.

É, talvez o mundo tenha mudado, ou os seres humanos, mas mesmo assim esse fato é absolutamente incompreensível, ainda que questões políticas estejam interferindo na relação entre atletas e confederação. Só para variar.

Eterna dança

O campeonato deste ano bate todos os recordes de troca de técnicos na história do Brasileirão por pontos corridos. Uma verdadeira tradição nacional a se intensificar a cada ano.

O mais estranho dessa constatação é o fato de parecer impossível que os gestores dos nossos times não tenham consciência de as mudanças, de modo geral, pouco ou nada contribuírem para a evolução das equipes. Em muitos casos, percebemos o absurdo da especulação sobre a volta de um treinador que deixara o clube poucas semanas antes, como aconteceu com Cuca no Botafogo após a queda de Geninho. Por sinal, o mesmo Geninho que já respondeu pela direção técnica de duas equipes este ano e muito provavelmente dobrará o número de seus contratantes.

A razão para esse entra-e-sai de treinadores se deve principalmente à incapacidade dos nossos dirigentes de enfrentar a opinião pública, quando as coisas não andam bem para seus clubes.

Para desviar a atenção de suas incapacidades administrativas, já que são eles os responsáveis pelas contratações, trocam de técnico para gerar um fato novo e, assim, criar a esperança de transformar o caos em céu de brigadeiro. Como isso nem sempre ocorre, surgem mais e mais mudanças no comando técnico, limitando ainda mais a capacidade de ir a pique de suas naus. Nau sim, pois com esse tipo de comando um transatlântico nem vai ao mar, quanto mais navegar. E, por fim, ficam a torcer pelo imponderável. Simples, não?

Opção pouco convincente

Não sou adepto da idéia de poupar jogadores em algumas partidas, por causa, pura e simplesmente, da disputa de duas competições simultâneas. A saúde física e mental dos atletas, não há dúvida, deve ser absolutamente preservada, inclusive para o rendimento dos atletas atender à expectativa de quem o contrata. Cada caso, no entanto, deve ser analisado isoladamente, sem uma política definitiva.

Ainda que alguns jogadores sintam muito quando exigidos a jogar mais de uma vez por semana, outros até preferem estar sempre em atividade para conservar as melhores condições. Os primeiros devem ser utilizados segundo as exigências de cada torneio e de cada partida. Como, por exemplo, decidir retirá-los de campo quando a vitória está consolidada ou quando a superioridade técnica é claramente imposta em determinado confronto. Com os demais não se deve ter maiores preocupações.

Deixar de utilizar a força máxima disponível é mexer com o imponderável e, eventualmente, deixar de lutar por um título, ainda que a competição seja longa, pois nem sempre é possível recuperar os pontos perdidos no início do campeonato. Acredito que o objetivo máximo deve ser sempre procurado e deixar de lado a pretensão de conquistar todos os torneios possíveis me parece sinal de fraqueza ou falta de ambição.

A conquista de uma competição torna-se mais provável quando todos os esforços são destinados a encontrar uma equipe forte e coesa. E isso é mais difícil quando as competições em disputa são tratadas distintamente.

IMPORTANTE: GESTÃO DO FUTEBOL

Há sinais de mudança no horizonte?


Amigos, blogs dessa natureza são escritos e lidos por pessoas que, em maior ou menor grau, são interessadas nas práticas de gestão do futebol brasileiro.

Vê-se a existência de um bom número de pessoas interessadas no crescimento do futebol brasileiro, no aumento de sua competitividade administrativa e financeira em comparação com o futebol internacional, e em última análise no fortalecimento de seus clubes de coração.

Isso nos leva, com base nas discussões empreendidas, a tentarmos desenhar um panorama muito breve e resumido do que está acontecendo no futebol brasileiro quanto às práticas de gestão, abrindo esse espaço para que nossos leitores opinem, forneçam exemplos e eventuais críticas. Por trás desse panorama, pergunto se há sinais concretos de mudança ou se estamos ainda presos a uma engrenagem que não deve ceder tão cedo.

Vamos a alguns aspectos positivos, para iniciar:

- Com a obrigatoriedade da publicação anual de balanços, que é algo recente, conseguiu-se obter uma maior transparência nos clubes, ao menos para que sejam detectadas suas práticas administrativas, deixando à mostra ineficiências de gestão. As dívidas dos clubes, por exemplo, estão lá para quem quiser ver, assim como a composição das receitas e dos custos. Infelizmente ainda há clubes que insistem em tratar suas finanças como segredo de estado, quando na verdade as informações estão disponíveis para quem se habilitar a procurá-las e entendê-las.

- Os clubes estão sendo obrigados a se estruturar para procurar novas receitas, em razão do grau de endividamento da maioria. Como as receitas mais significativas muitas vezes são comprometidas no médio prazo por causa da tomada de adiantamentos relativos a direitos de TV, de patrocínios e até mesmo da receita de ingressos, o caminho mais comumente adotado tem sido o de criar programas de Sócio-Torcedor, embora muitas vezes esses sejam elaborados de maneira primária, não significando uma concessão de reais vantagens ao torcedor ou não gerando aumento de receitas para o clube. Por outro lado há exemplos de grande sucesso, especialmente nos dois clubes grandes do Rio Grande do Sul.

- Há uma tendência muito forte para que clubes tenham estádios construídos ou reformados, quase sempre com a criação de parcerias com investidores. Novos estádios são, em nossa opinião, absolutamente fundamentais para que um novo tipo de relacionamento com o público possa ser iniciado, de maneira a tornar as receitas em dias de jogos algo significativo de fato. Observamos que a realização da Copa 2014 no Brasil é um fator de estímulo, mas que não deve ser levado em conta na elaboração de um projeto saudável e sustentável de modernização ou construção de estádios. Dentre outros exemplos, podemos esperar que Inter e Grêmio em Porto Alegre, Figueirense em Florianópolis, Palmeiras e talvez Corinthians em São Paulo, possam dispor de arenas modernas em um prazo relativamente curto. O lado negativo é que estádios para a Copa serão levantados ou modernizados com dinheiro público em algumas praças, o que será um desestímulo para a iniciativa privada e os clubes nesses locais; exemplos disso são os estados de Minas Gerais e Bahia.

- Existe um público ansioso por reformas estruturais no esporte brasileiro, além de haver uma geração de profissionais procurando espaço para atuar em clubes ou empresas patrocinadoras. Vários cursos de graduação, pós-graduação e especialização tem sido introduzidos no mercado brasileiro. A existência de mão-de-obra qualificada é um requisito fundamental para a transformação.

Agora vamos ver um pouco dos aspectos negativos:

- A estrutura administrativa da imensa maioria dos clubes ainda é amadora e passional, já que são organizações eminentemente políticas e que se comportam como tal. Alguns anos atrás ouvimos de um conceituado e esclarecido ex-dirigente de um grande clube paulista (por sinal uma excelente pessoa e um ótimo professor) que o requisito básico para ser contratado como um profissional administrativo era ser torcedor do clube. Refletindo sobre o absurdo dessa afirmação, entendemos que não se tratava necessariamente de um ponto de vista pessoal, mas sim do fato desse ex-dirigente conhecer profundamente a estrutura e a cultura de seu clube. Ou seja, para os profissionais que buscam atuar na gestão de clubes os desafios são imensos, porque não há porta de entrada aberta.

- Atuar em clubes menores, que parece ser uma alternativa, é também muito difícil, já que a cultura administrativa dos dirigentes é ainda mais pobre. Os poucos exemplos de clubes que tentaram se profissionalizar são em muitos casos desanimadores, com interferência constante do poder pessoal dos dirigentes e com o predomínio dos interesses políticos. Para piorar o cenário, algumas dessas experiências poderão ser julgadas por resultados esportivos, e cito como exemplo o Paulista de Jundiaí, clube que venceu a Copa do Brasil em 2005 e disputou a Libertadores da América em 2006, e que ruma agora para a Série D do Campeonato Brasileiro (que será criada em 2009). O Paulista, apesar de tentar se profissionalizar administrativamente, não conseguiu de fato se posicionar como um clube importante no cenário esportivo, a despeito da oportunidade gerada por seu sucesso recente.

- Os departamentos de marketing, em sua maioria, adotam soluções isoladas, com o objetivo de gerar receita imediata; naturalmente, por mais que haja esforços, não conseguem realizar milagres na geração de receitas em curto prazo. Com o desgaste causado por mirabolantes promessas não cumpridas, parte dos dirigentes, torcedores e imprensa tende a reforçar o argumento de que não são possíveis mudanças estruturais no futebol brasileiro, e que este está condenado a ter clubes deficitários, reféns de poucas fontes de receitas e dependentes das transações de atletas para o exterior.

- Há muitos interessados na manutenção do status atual. Citamos como exemplo os dirigentes e empresários que ganham rios de dinheiro com as transações de jogadores para o exterior, e para quem a dependência dos clubes em relação a esse tipo de receita é uma verdadeira galinha dos ovos de ouro. Vemos com preocupação que vários profissionais administrativos que estão tentando ingressar no mercado esportivo estão voltando seus olhos para a carreira de agenciadores de atletas, já que aí está a mais concreta oportunidade. Embora não se possa criticá-los sob a perspectiva pessoal, já que esse é um meio legítimo de ganhar a vida e quem sabe fazer fortuna, vejo aqui um fator muito negativo para nosso esporte.

- As empresas que patrocinam o futebol, em sua maioria, não desenvolveram estruturas específicas para rentabilizar seu investimento, explorando-o mais e com maior eficiência. Em geral, quando há um profissional de marketing esportivo contratado, este está incumbido basicamente da realização de (poucos) eventos e da administração do envio de ingressos para convidados. Há oportunidades muito interessantes que não são exploradas, como a criação e administração de relacionamento com torcedores buscando transformar o patrocínio em vendas, tornando os resultados imediatamente mensuráveis e levando o relacionamento com esses clientes a uma dimensão maior. Mas, infelizmente, as empresas ainda compram, basicamente, o espaço do uniforme com o objetivo de aparecer nas telas de TV. É muito pouco.

Bem, amigos, essas são algumas observações que, de maneira muito breve, deixo nesse espaço. Estamos abertos a seus comentários, exemplos e observações.

Crédito: Maurício Bardella
Revisão: Benê Lima